Gravação mostra Renan orientando defesa de Delcídio - Leia a transcrição.
- blogtodososfatos
- 26 de mai. de 2016
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Gravação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, delator da Operação Lava Jato, mostra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), numa conversa no último dia 24 de fevereiro, orientando uma pessoa identificada como Wanderberg, suposto representante de Delcídio do Amaral (sem partido-MS), sobre como fazer a defesa do então senador.
Delcídio teve o mandato cassado no último dia 10 pela unanimidade dos votos dos senadores presentes. Na época em que foi feita a gravação, o processo de Delcidio ainda estava no Conselho de Ética, e Renan não sabia que Delcidio já era delator da Lava Jato.
Renan afirma que é preciso que o presidente do conselho, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), peça diligências para não parecer que a investigação estivesse parada. E sugere que Delcídio faça uma carta mostrando humildade e que já pagou o preço pelo que fez.
RENAN: O que que ele (Delcídio) tem que fazer... Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias... Família pagou... A mulher pagou... WANDEMBERG: Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora. RENAN: Conselho de ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras... O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado... WANDEMBERG: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada...
Sérgio Machado é apontado por investigadores da Lava Jato como o caixa da cúpula do PMDB. Em troca de uma possível redução de penas na Lava Jato, ele comecou a gravar conversas com Renan Calheiros e com líderes do partido que levaram à assinatura do acordo de delação, validado nesta quarta-feira (25) pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Machado ficou na presidência da Transpetro, estatal responsável por processar gás natural e transportar combustível, por 12 anos. Ele chegou ao cargo em 2003, no governo Lula, por indicação política de Renan.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (26), a assessoria de Renan Calheiros afirma que o presidente do Senado acelerou o processo de cassação de Delcídio e que o processo do ex-petista não ficou parado no Conselho de Ética.
"O senador [Renan Calheiros] lembra que acelerou o processo de cassação no plenário às vésperas da votação do impeachment. O desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais. Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou", diz o texto da nota.
Procurador-geral e outros políticos Em outra gravação de Sérgio Machado, em 11 de março, o ex-presidente da Transpetro conversa com Renan.
Eles criticam o procurador-geral da república, Rodrigo Janot. Falam em "fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla, para poder segurar esse pessoal", dando a entender de que tratavam dos investigadores da Lava Jato. Os dois fazem críticas a vários políticos no diálogo.
Citam o senador Aécio Neves, presidente do PSDB; o deputado Pauderney Avelino (AM), líder do DEM; "Mendoncinha", como é chamado o agora ministro da Educação, deputado Mendonça Filho (DEM-PE); senador José Agripino (RN), presidente do DEM; senador Fernando Bezerra (PSB-PE); senador José Serra, do PSDB, atual ministro das Relações Exteriores, e a agora presidente afastada Dilma Rousseff.
SÉRGIO MACHADO: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra. RENAN: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava jato) quer. SÉRGIO MACHADO: É, ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando o dono do mundo. RENAN: Dono do mundo. SÉRGIO MACHADO: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo. RENAN: É... SÉRGIO MACHADO: O Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo! Há muito tempo. SÉRGIO MACHADO: Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino. RENAN: Pauderney Avelino. RENAN: Mendocinha. SÉRGIO MACHADO: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade? SÉRGIO MACHADO: O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice. RENAN: O Zé, nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra. Que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Eu acho. SÉRGIO MACHADO: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda. RENAN: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom. SÉRGIO MACHADO: Porque também entende disso que a gente está falando. RENAN: É. SÉRGIO MACHADO: Porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat [se referindo ao colunista Ricardo Noblat, do jornal "O Globo"] botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos. RENAN: Tirar a Dilma? Manter a Dilma? SÉRGIO MACHADO: Tirar a Dilma. Que é um processo de salvação, de salvação. RENAN: Que é a lógica que ela fez o tempo todo. SÉRGIO MACHADO: É porque esse processo. Porque Renan vou dizer o seguinte: dos políticos do congresso se "sobrar" cinco que não fez é muito. Governador nenhum. Não tem como, Renan. RENAN: Não tem como sobreviver. SÉRGIO MACHADO: Não tinha como sobreviver. RENAN: Tem não. SÉRGIO MACHADO: Não tem como sobreviver. Porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo. RENAN: É.
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